AMADO, Jorge. Gabriela, cravo e canela:crônica de uma cidade de interior. 79.ed. São Paulo: Record, 1998.
VALTER, José. Jorge Amado. Disponível em https://www.josevalter.com.br/estudante/literatura.htm
AMADO, Jorge. Gabriela, cravo e canela:crônica de uma cidade de interior. 79.ed. São Paulo: Record, 1998.
VALTER, José. Jorge Amado. Disponível em https://www.josevalter.com.br/estudante/literatura.htm
A narrativa de Jorge Amado começa com duas divisões, a primeira centra-se na história de dois personagens: Mundinho falcão e Nacib. Mundinho é um jovem carioca que migrou para Ilhéus e que tem pretensões de acelerar o desenvolvimento da cidade, sendo preciso bater de frente com o sistema político encontrado: o coronelismo, e consequentemente tendo que travar uma luta com um dos mais famosos coronéis, Ramiro Bastos, o inepto coronelgovernante. Nacib é um sírio, dono do principal, bar da cidade, o Vesúvio, o qual no desenrolar da história acaba perdendo sua cozinheira e sai em busca de uma nova para dar um jantar a mais de trinta pessoas que estavam na cidade para a inauguração de uma linha automotiva para a cidade de Itabuna, também na Bahia.
Bem no final da primeira parte aparece Gabriela, uma jovem recémmigrada do sertão de Alagoas, a qual fugiu da seca, junto com seu tio e seu amigo-companheiro, com o qual deitava-se todas as noites, ambos sonhavam deixar a cidade seca e irem atrás do progresso do sul da Bahia. Gabriela estava em busca de um emprego, a jovem fica no porto e Nacib sai em busca de sua cozinheira e acaba a encontrando, que a contrata para ser sua cozinheira, mas que acaba não contentando-se apenas com seus serviços na cozinha, mas também quer tê-la em sua cama, como sua mulher e consequentemente como esposa.
Na segunda parte Amado traz seu leque de personagens, coronéis, prostitutas e adúlteras, todos de uma só vez num enredo particular, dando enfoque às histórias. Malvina é uma jovem moça de colégio de freiras que acaba apaixonando-se por Josué, um jovem que já está caindo aos encantos da prostituta Glória, a qual é concubina de um dos maiores coronéis da cidade, ambos acabam fugindo apões serem pegos e a jovem Malvina acaba sendo internada em um colégio fora da cidade. Outra história que se desenrola é o caso da senhora Sinhazinha com o dentista Osmundo Pimentel, ambos mortos por terem infringido a honra de um homem, a lei que imperava na cidade de regime coronelista era de que se uma mulher fosse flagrada em adultério esta deveria ser morta, apenas assim sua honra seria lavada.
O final da narrativa mostra o progresso da cidade de Ilhéus, acabando assim o regime coronelista. Gabriela casa-se com Nacib, mas é flagrada o traindo com seu padrinho de casamento, Tonico Bastos, porém Gabriela não é morta, apenas surrada, mas ao passar dos dias, Nacib volta ter relacionamento com a mesma, mesmo tendo anulado seu casamento.
Gabriela, cravo e canela é um romance urbano, passado quase todo na rica cidade de Ilhéus da década de 1920, apresenta em sua narrativa coronéis e jagunços, prostitutas, imigrantes e sinhazinhas envolvidos em manobras políticas e tramas de amor, crime e adultério. Recheado de humor para a ironia e com uma movimentação de caráter quase burlesco, o livro marca a virada nos procedimentos artísticos e políticos de Amado, que depois viria a escrever Dona Flor e Seus Dois Maridos (1966) e Tieta do Agreste (1977). E nessa fase se encontram ainda as novelas Velhos Marinheiros (1961 - Globo) e Tenda dos Milagres (1970 - Globo), esta adaptada ao cinema.
Em Gabriela, o cacau não gera mais sangue, mas sim riqueza, e seu perfume maduro mesclam-se ao aroma das flores da estação e à sensualidade da protagonista. Trata-se de uma crônica da modernização dos costumes, a narrativa segue assim, do geral ao particular e do particular ao geral, residindo nesse movimento, em que se entrelaça o ir-e-vir de dezenas de personagens representativos, histórias separadas, mas juntas em um enredo criado por Amado. De grande apelo e repercussão, contribuiu para formar, junto com outras obras ficcionais do autor, a imagem “exótica” do Brasil no exterior, já que o mesmo foi sucesso de traduções em mais de trinta e três idiomas.
Além dos romances na obra Jorge Amado mostra também o prédesenvolvimento de Ilhéus e tece algumas definições dos requisitos que compreende o ser grapiúna e, portanto ser considerado como indivíduo apto a pertencer ao local:
“Bar era um bom negócio em Ilhéus, melhor só mesmo cabaré. Terra de muito movimento, de gente chegando atraída pela fama da riqueza, multidão de caixeiros-viajantes enchendo as ruas, muita gente de passagem, quantidade de negócios resolvidos nas mesas dos bares, o hábito de beber valentemente e o costume levado pelos ingleses, quando da construção da Estrada de Ferro, do aperitivo antes do almoço e do jantar, disputado no pôquer de dados, hábito que se estendera a toda população masculina.” (AMADO, 1970, p. 69)
Aqui Jorge Amado deixa claro dois aspectos importantes. O primeiro se refere à contextualização situacional da cidade: Ilhéus era um centro no qual se reuniam várias pessoas atraídas pelo progresso, quer seja para desfrutar dos seus prazeres devido à condição econômica, quer seja devido à visão de aproveitar a onda de crescimento para lucrar, como no caso dos comerciantes, caixeiros, viajantes e outros. O segundo aspecto importante que se observa é a afirmação de que os hábitos desenvolvidos com a nova configuração da cidade se restringiam à população masculina.
Gabriela, cravo e canela inaugura uma nova fase na obra de Jorge Amado. A partir deste romance, o autor atenua o conteúdo político que marcou seus primeiros livros para dar ênfase à mistura racial, ao erotismo e a uma percepção sensorial do mundo. Ganham destaque as personagens femininas: as mulheres passam ao centro das narrativas como mito sexual, mas também como agentes do próprio desejo, são elas as protagonistas de suas histórias.
Gabriela foi o primeiro livro escrito por Jorge Amado depois de deixar o Partido Comunista. Publicado em 1958, o romance recebeu no ano seguinte os prêmios Machado de Assis e Jabuti. Em 1961, Jorge Amado seria eleito para a Academia Brasileira de Letras, em grande parte graças ao estrondoso sucesso do livro. Gabriela virou novela da TV Tupi, em 1961, e mais tarde da rede Globo, em 1975, logo após repetiu o sucesso em filme, mais precisamente em 1983 com Sônia Braga no papel da sensual Gabriela. E novamente a rede Globo de televisão estreia em 2012 a novela inspirada no romance de Jorge Amado, um remake que promete fidelidade à obra do autor. O livro foi traduzido para mais de trinta idiomas, é o livro de Jorge Amado com o maior número de traduções.